Juan trabalha e nos tempos livres… trabalha.
Ele sabe que a economia Cubana e mundial não vai bem. Mas muito do que sabe não vem nos jornais (só há um jornal do governo), nem nos noticiários estrangeiros (canais internacionais não são permitidos) ou na internet (proibida aos cidadãos nacionais). Sabe porque fala com os turistas estrangeiros que, diferente dele, tem dinheiro, máquinas fotográficas e telemóveis. Pessoas bem aparentadas que podem sair livremente do seu país para gozar as férias num lugar qualquer a sua escolha.
Gosta de viver em Cuba, tem orgulho em ser cubano, mas sonha um dia conhecer outros países.
Um sonho que o seu salário de 20 dólares mensais não permite voos mais ousados que não o da mera fantasia.
E porque a imaginação não paga as contas da casa, Juan sai às ruas nos tempos livres durante 3 dias seguidos para colectar latas de alumínio. Percorre as ruas da cidade com um olhar atento a todos os cantos e lixeiras. Anda a sombra de uma classe social qualquer, capaz de comprar bebidas enlatadas e descartar o que para ele tem o valor de um mês passado com menos dificuldades.
Passados os 3 dias de coleta, reúne com orgulho o seu tesouro metálico a porta de casa e espalha pela rua o conteúdo de sacos gigantes.
Alguns condutores já habituados passam com os seus Fords sexagenários pelo tapete de latas, diminuindo-lhes o volume. Outros condutores param hesitantes: têm medo de “estragar” o trabalho de alguém.
Estrategicamente, Juan, com a ajuda do seu irmão Carlos, utiliza uma vassoura para separar com cuidado as latas já compactadas.
Enquanto varre latas pisadas pelos carros, o seu pensamento se perde nas tarefas seguintes e mentalmente faz as contas de cada 3 quilos que irá vender por um dólar. Com um pouco de sorte, a injusta balança do comprador de latas hoje não estará tão errada…
Este emprego alternativo não é único de Cuba. O Brasil é líder mundial com cerca de 95% de reaproveitamento das latas de alumínio e com milhares de pessoas que dependem desta tarefa para a sua sobrevivência. Num espaço de 30 dias uma lata é produzida, colocada a venda, o seu conteúdo é consumido, é então coletada, reciclada e novamente colocada a venda. Um processo com uma grande influência social, económica e ambiental.
Observou situações semelhantes em algum momento? Já refletiu sobre estas questões? Partilhe o seu pensamento com outros leitores.
Que fantástico Ana. Ótima continuação.